Hoje vivenciamos dois modelos de crescimento que se antagonizam nas suas formas de responder aos problemas em que são demandados.
Principalmente na economia, geralmente os estudos técnicos partem de ideias ou concepções já desenvolvidas por algum economista que, de alguma forma, estudou fenômenos ou acontecimentos que se enquadram naquele fato específico.
Hoje vivenciamos dois modelos de crescimento que se antagonizam nas suas formas de responder aos problemas em que são demandados. Podemos definir que um dos crescimentos é chamado de “Keynesiano”, e o outro, denomina-lo de “shumpeteriano”, sendo, ambos, considerados economistas relevantes do século passado.
O primeiro está calcado no aumento do número de consumidores, o segundo afirma que o verdadeiro vetor do crescimento é a inovação (que torna, com o passar do tempo, obsoleto coisas ultrapassadas, sejam organizações, comportamentos da sociedade ou produtos, trazendo constantes transformações).
Aparentemente a lógica Keynesiana se mostra possível, em um primeiro momento. Se partirmos da ideia de que se o número e a riqueza dos consumidores aumentam, consequentemente passarão a adquirir continuamente mais serviços ou produtos, as empresas aumentarão suas vendas, o que, em tese, produziria mais crescimento e os empregos necessários para suprir à demanda. É basicamente a ideologia de mercado que a esquerda política defende, não só no Brasil, mas no mundo.
É possível, com algum esforço intelectual, entender a predisposição por este modelo, até mesmo porque o debate público ou político deste tipo de assunto, na maioria das vezes, se resume a um estado esburgado, aproximando-se, como diria Luc Ferry, a espécie de quintessência da demagogia comum na esfera política.
Para seus apoiadores, aumentar os salários (em especial o salário mínimo) para que se retome ou aumente o consumo das famílias no intuito de, como em um toque de mágica (Mister M ou Aladin e o gênio da lâmpada ou Mágico de Oz, em Kansas nos EUA), junto ao aumento de crescimento, sobressair ofertas de empregos.
Essa teoria se irrompe de forma tão grotesca que é até assombroso crer que ainda existem pessoas, alguns especialistas (economistas) e outros com poder de decisão (políticos) que ainda defendem tal modelo.
A essência do erro é clara e objetiva: se o aumento do salário de forma vertiginosa – quanto maior, melhor-, que ocorreria com a intenção de potencializar o consumo e emprego através do crescimento, não é objetivado ou implantado na economia de todos os países?
A primeira celeuma está no fato de que as empresa não possuem margens de lucros infinitas, ou seja, salários estratosféricos acabariam com os empregos, ocorrendo o efeito reverso do proposto pela teoria. O segundo problema advém da globalização da economia, ou seja, seria impossível competir com, por exemplo, as indústrias da China, cujo custo de produção é 25 ou 30 vezes inferiores a basicamente todos os países. Tal fato se deve às políticas públicas daquele país, no qual persevera a ausência de um Estado assistencialista, pesados encargos sobre suas empresas, baixos salários e uma carga horária incomparável.
É fato que talvez esse não seja o caminho, em razão da supressão de alguns princípios e direitos importantes, mas o fato é que, com essas condições, fica impossível ao Brasil competir com a indústria chinesa e de diversos outros países, o que enfraquece a indústria nacional e engessa o nosso desenvolvimento.
Por todas essas razões, obviamente esplanadas de forma objetiva e pragmática, penso eu, não ser o melhor caminho.
No contexto atual de globalização e mercado, creio que a ideologia abstraída de Shumpeter apresenta-se com uma solução mais adequada para a realidade do nosso país. O economista afirma que o crescimento é alimentado pela invenção de novidades em todos os campos essenciais à produção capitalista. Nisto, podemos listar serviços e produtos, organização de trabalho, novos processos de produção, novos mercados, alternância na fonte de matéria prima, dentre outros.
Alguns economistas chamam essa mutação global da economia de “multiusos”, ou seja, são evoluções que alteram ou trazem em seu bojo novas formas de produção e consumo e, através dessa mudança, o crescimento de renda e emprego.
E o maior exemplo que estamos vivendo é a dita Revolução 4.0, que tem decomposto o mercado através de novas tecnologias, transformando e influenciando o comportamento humano e, principalmente, a forma de consumo.
Agora, por óbvio, para romper a barreira do progresso através da inovação também irá custar um preço alto. Existe a necessidade de democratização para acesso de todos ao novo mercado, adaptação de empresas com modelos tradicionais e os novos costumes a serem geridos pelos consumidores. Alguns problemas advêm do próprio mecanismo tradicional, como por exemplo, o questionamento sobre a necessidade de existência de livreiros, quando a difusão digital de livros tomou conta deste nicho específico de mercado. Teríamos vários outros exemplos, mas o tempo e a extensão do texto urgem.
A esta teoria podemos dizer que está alinhada a chamada economia liberal. Pode-se até argumentar de que a economia liberal não imergiu nas profundezas da miséria, mas, com certeza, foi ela quem ditou uma evolução que retirou milhões de pessoas desta condição (apesar de ainda aparentar ser um problema distante de ser resolvido), mas é fato de que, se buscarmos dados comparativos, desde os anos de 1950, a renda per capita aumentou consideravelmente.
Se existe um modelo, mesmo que imperfeito, que trouxe melhores resultados para as economias liberais, este foi o liberal.
Vivemos a abertura de uma era de progresso incontestável (como já ocorreram nas primeiras revoluções industriais com a tecelagem, energia elétrica e tecnologia). A questão é que a opinião pública e aqueles que ditam as decisões neste campo, talvez não possuam o tempo necessário para compreender este aspecto que, em um primeiro momento passa pela desconstrução (algo tradicional para o tecnológico) para, posteriormente, materializar os benefícios do progresso. Tais pessoas possuem em seu DNA a característica do curto prazo, sendo que, o pensamento enquanto nação e geração vindouras, precisaríamos de uma visão futurista.
Assim, o que vivemos não se trata de uma simples crise passageira, mas uma revolução imutável que proporciona perspectivas entusiasmantes para alguns e angustiantes para outros.
Tudo isso de forma mais acelerada pelo vetor da pandemia causada pelo COVID-19 por todo o mundo.
Estamos vivendo uma nova era!
Publicação original em: https://jornaldebrasilia.com.br/blogs-e-colunas/pense-direito/os-dois-crescimentos-estimulo-ao-consumo-ou-inovacao-liberal/