Artigo publicado pelo sócio-fundador Franco Júnior no Jornal de Brasília, em 01/04/2020.
Diante de tantas declarações desencontradas entre especialistas e autoridades sobre o assunto, parece distante um planejamento adequado e técnico para o combate ao vírus.
Quando lemos notícias sobre os casos de infectados pelo Covid-19 é comum vermos gráficos com estatísticas para fins de comparação e observação da tão famosa curva de contágio. A estatística tem como função descobrir as relações de interdependências entre causas e efeitos de um fato/acontecimento aleatório através da lógica, mediante método indutivo.
Desta forma, ela deveria disponibilizar informações úteis e necessárias para a definição de estratégia e melhora do processo. Talvez hoje a discussão mais em voga esteja sobre a necessidade ou não do isolamento absoluto. Aqueles que o defendem alegam que se deve priorizar a vida, sendo esta modalidade a única forma de conter o avanço do vírus.
Outros, defendem o isolamento cirúrgico e vertical como forma eficaz de combater o vírus e, ao mesmo tempo, evitar as consequências desastrosas que ocorrerá com a defasagem das atividades empresariais. Ambos os lados defendem de forma técnica o assunto. Comparações com situações em outros países, como a Itália, que faz crer o isolamento absoluto como a melhor saída. Assim como o Japão, já noticiado que estaria aplicando o isolamento vertical e, da mesma forma, estaria contendo o avanço do vírus. Para fins de colaborar com o tema ora exposto, a nossa coluna optou por convidar o dr. Tiago Pechutti Medeiros, CEO da Slam – Santa Luzia Assistência Médica S.A, operadora de plano de saúde na modalidade de medicina de grupo, visando à assistência médico-hospitalar com a utilização de corpo clínico e ambulatórios de terceiros.
A Slam vem se consolidando com uma das maiores operadoras de planos de saúde de Brasília/DF, e isto se dá a excelente visão do seu CEO, que alia a experiência de mercado (já foi presidente de operadora de saúde de grande porte no estado de São Paulo; membro efetivo de diversos conselhos de administração de operadoras de saúde e de uma grande cooperativa de crédito de nível nacional) com sua qualificação técnica originária como médico. Desta forma, o Dr Tiago, gentilmente, nos concedeu a sua opinião sobre o tema ao responder os seguintes questionamentos:
1- Como o sr. avalia esta situação do covid-19 no brasil?
Já se sabe que taxa de complicações desse vírus é baixa, menor que os vírus influenza e h1n1 por exemplo, em torno de 90% dos casos de contágio terão sintomas de gripe ou passarão assintomáticos. Os idosos e as pessoas imunodeprimidas são a preocupação. Mas o que há de diferente nesse vírus? A sua capacidade de contágio é mais alta que os anteriores e isso trouxe um fenômeno social e mental. veja: “saúde é o bem estar físico mental e social” Com a rápida transmissão do vírus pelo mundo, houve um pânico natural dessa situação, principalmente pelo fato de a Itália registrar um elevado número de complicações e óbitos, não seria diferente, pois a população desse país tem um número de idosos acima da média. A partir daí há um efeito cascata, confluindo na medida de contenção do contágio, chamada isolamento social. O isolamento social tem consequências pois afeta os outros dois aspectos do conceito de saúde, o mental e social causando inúmeros distúrbios como depressão, medo, insegurança e outros. A minha preocupação é como estará a sociedade após a chamada primeira onda (o contágio) que como toda epidemia por vírus tem um ciclo e acaba, então entraremos na segunda onda, como a população estará mental e socialmente para voltar a vida normal.
2- As medidas que o Governo Federal e local tem tomado são suficientes?
São sim! Até porque o isolamento social achata a curva de contágio. Mas as consequências do isolamento social também são severas, vejamos: levando o conceito de saúde acima exposto, logo, as consequências do isolamento social trazem danos aos outros dois pilares do conceito saúde, o mental e o social. Pessoas enclausuradas desenvolvem fobias, depressão e outros distúrbios mentais que são de difícil tratamento a curto prazo, até pela variedade imensa de diagnósticos que deverão ser feitos caso a caso.” Sentir-se improdutivo é o principal fator que desencadeia esses distúrbios.
3- Qual a sua visão desta crise como empresário e médico? A questão econômica está dissociada da saúde?
Voltemos ao conceito de saúde e a resposta fica evidente. Não há dissociação entre os três pilares. As três frentes devem estar simultaneamente sendo analisadas e atacadas com ações fortes e bem claras. Nesse contexto a comunicação assertiva com toda população e, entre todos os agentes envolvidos no enfrentamento é o modo mais eficaz ao terminar o ciclo do vírus.
4- Quais medidas, na sua visão, seriam suficientes para conter a disseminação do Covid-19 no brasil?
Como já dito acima, a capacidade de transmissão do covid-19 é mais alta que a dos anteriores, porém com taxas de complicações bem menores. Alemanha, Correa do sul por exemplo usaram o isolamento vertical e obtiveram êxito. Cada país tem características próprias, como clima, idade média da população, sistemas de saúde, entre outros. A questão é que há um isolamento total, inclusive das faixas etárias que são em torno de 90% das contaminadas, estas terão chances baixíssimas de terem sintomas mais graves ou até não terão sintomas.
5- Qual é o posicionamento da Slam como empresa de saúde?
Estamos monitorando e dando todo suporte, atendimento e orientações aos nossos clientes quanto ao Covid- 19 por meio de monitoramento permanente de nossos beneficiários idosos. Quanto a nossa responsabilidade social estamos realizando uma vultuosa doação de EPIS (equipamentos de proteção individual) para um grande hospital público aqui do DF, para que seus profissionais possam ter mais desses equipamentos a disposição e trabalharem em segurança e tranquilidade no atendimento da população sem gerar mais pânico.
Opinião como a do Dr. Tiago Pechutti Medeiros se mostra extremamente relevante e se deve levar em conta, tendo em vista que o mesmo apresenta conhecimento técnico para tratar tanto da enfermidade em si, como médico, assim como gestão de saúde, por ser objeto de desenvolvimento da sua atividade empresarial. Não acredito na possibilidade de se desenvolver um plano adequado ao país sem que haja a análise técnica de dados. Pode-se sim, levar em conta as estatísticas de outros países aliada à nossa até o momento. Contudo, existem diversas variáveis que deveriam entrar nessa análise, tais como: densidade demográfica, clima, faixa etária preponderante, dentre tantos outros dados que nos diferenciam de qualquer país da Europa ou Ásia.
Outro fator preponderante neste planejamento seria a análise do perfil de cada camada social, principalmente aquela menos favorecida que necessita trabalhar todos os dias para o seu sustento e de sua família. Se não tivermos um planejamento adequado para estas pessoas, certamente as consequências serão extremamente danosas. Por fim, o que se apresenta como uma deficiência das autoridades, não só brasileiras, mas de todos os países afetados, são as informações que não são precisas e a ausência da descoberta de tratamento adequado (situação que nos parece estar um pouco avançada com os experimentos da cloroquina).
Com tantos estudos e análises avançadas, cremos estar próximos de um desfecho positivo através de um planejamento efetivo e correto que possa salvar vidas sem que haja uma destruição da situação econômica, e o avanço na descoberta do tratamento eficaz para que este vírus seja dizimado de uma vez por todas.
Publicação original em: https://jornaldebrasilia.com.br/blogs-e-colunas/pense-direito/ausencia-conhecimentos-sobre-o-covid-19-dificulta-o-planejamento-estrategico-para-a-sociedade/