As novas formas de relação do mercado na transição entre enfrentamento da pandemia e pós COVID-19.

Artigo publicado pelo sócio-fundador Franco Júnior no Jornal de Brasília, em 21/05/2020.

Muitos falam em voltar à normalidade quando nada será como antes. Qual será o destino e o caráter desta transição.

Historicamente existem 03 grandes vetores que aceleram de forma contundente profundas transformações sociais, quais sejam: guerras, revoluções e pandemias. São fatores que conduzem rapidamente a história para um futuro que já era aguardado. Processos que já estavam em curso são extremamente acelerados, com mudanças irreversíveis.

Estamos vivendo uma delas.

E, com absoluta certeza, junto à pandemia, esta nova crise causada pelo COVID-19, trouxe à reboco a aceleração também de uma revolução, a chamada Revolução 4.0 ou quarta revolução industrial.

Antes da pandemia discutíamos a viabilidade ou não do ensino à distância. Em menos de uma semana, todas as aulas se tornaram on-line. Em menos de uma semana, todas as reuniões passaram a ser realizadas via aplicativos remotos e assim por diante.

O primeiro marco que trouxe uma nova forma de relação na sociedade através de configurações de produção foi a Primeira Revolução Industrial. Processo este iniciado na metade do século XVII, na Inglaterra, a partir da invenção da máquina a vapor e sua aplicação na produção têxtil, ou seja, houve a mecanização da tecelagem.

A Segunda Revolução Industrial, ocorrida entre o final do século XIX e início do século XX, se deu em razão de diversos inventos que passaram a ser produzidos e comercializados em razão da energia elétrica, tais como: televisor, automóvel, rádio, avião, etc.

Já a Terceira Revolução Industrial, esta já no decorrer do século XX, foi marcada por profundas transformações na economia internacional. Essa nova fase proporciona processos tecnológicos decorrentes de uma conexão física entre ciência e produção.

Agora, por fim, segundo teóricos, o mundo passa por uma transição de época e estaríamos no início da 4ª revolução industrial ou da chamada Indústria 4.0.

O professor alemão Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial, desenvolve a ideia de que já estamos vivendo nessa nova Era. “Estamos a bordo de uma revolução tecnológica que transformará fundamentalmente a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. Em sua escala, alcance e complexidade, a transformação será diferente de qualquer coisa que o ser humano tenha experimentado antes”, diz Schwab no livro “A Quarta Revolução Industrial”, publicado em 2016.

Sem dúvida estamos vivenciando a maior e mais contundente das transformações e, agora, acelerada pela pandemia do coronavírus (COVID-19). O fator de maior preponderância nesta Revolução 4.0 está no fato de que ela não se define pelas tecnologias isoladamente, mas pela convergência e conexão entre elas.

Ocorre, neste momento, uma sinergia entre o mercado digital (ou mundo digital) e o mundo biológico.

Pois bem. Viveremos avanços tecnológicos em 01 ano o que provavelmente viveríamos em 10, 20 anos.

Junto a isso, também iremos enfrentar os problemas decorrentes desta evolução.

Processos de algoritmos transformará funções desempenhadas por humanos irrelevantes.

Uma coisa é a crise de desemprego que tivemos no final de 1929. PIB e a economia encolhem e funções se tornam excedentes. Posteriormente essas pessoas buscam sua reinserção no mercado. Outra coisa, é quando a função perde sua necessidade em decorrência de um avanço tecnológico.

Nesta crise podemos identificar diversas empresas que foram obrigadas a tornam seu negócio digital para pode dar continuidade à suas atividades empresariais, tendo em vista decretos que determinaram o fechamento do comércio físico.

Outras simplesmente demitiram seus funcionários, fecharam seus estabelecimentos comerciais e passaram a trabalhar 100% on-line.

Diante de tudo isso, o que esperar do trabalhador com o avanço da tecnologia?!!

Vivemos num País com analfabetismo funcional gigante. Estima-se que aproximadamente 50% da população brasileira não consegue ler e discernir um simples manual de uso.

Qual seria o papel desta população onde o mundo do algoritmo responderá pelas ações e efeitos?!!

Com certeza essa revolução tecnológica veio para ficar e avançar cada vez mais. Contudo, como efeito colateral, haverá uma desproporcional exclusão de grande parcela da sociedade. E, sem a reinserção ou inserção desta parcela nesta revolução tecnológica, poderemos temer pelo futuro do capitalismo brasileiro.

Parece-me que a resposta para esse problema é a mesma que enfrentamos há anos.

Há muita discussão no meio econômico do que seria necessário para crescermos nosso mercado e, consequentemente, o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil. Há muitas políticas públicas, incentivos, abertura de comércio, etc.

Contudo, há um dado significativo, pouco explorado, e que com certeza contribui para o nosso pequeno PIB há muitos anos, que é a produtividade do trabalhador no mercado brasileiro a se comparar com trabalhadores de países de primeiro mundo como EUA, China e Alemanha.

Ou seja, nesses países se produz mais, em menos tempo, com o mesmo número de funções empregadas em determinada atividade.

E para que essa celeuma seja resolvida só há e sempre existiu somente uma saída:

INVESTIMENTO EM EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO.

Vivemos numa época de extensa confusão entre formação e informação. A informação, através do avanço tecnológico, está disponível para qualquer um que pode, por exemplo, acessar a rede mundial de computadores, famosa internet. Formação, restringe-se aquele a quem dedicou e se tornou especialista no tema, com reconhecida capacidade técnica.

Precisamos urgente de mais FORMAÇÃO.

Por fim, o discurso atual está envolto da proteção à vida, como de fato deve ser.

Contudo, proteção à vida envolve saúde, manutenção dos empregos, economia e subsistência.

A vida implica uma ação integrada entre biológico e econômico.

O discurso “fique em casa” é soberano, belo e carregado de altruísmo quando proferido por pessoas com boas condições financeiras e que podem sobreviver por um período de inatividade, sofrendo apenas com restrições sociais. O discurso do “fique em casa” muda totalmente de conotação quando proferido por pessoas de parcas condições, autônomos que vendiam de dia para levar comida para casa à noite, por pessoas que perderam seus empregos e tem uma família para sustentar, por pessoas que vivem ou já viviam na miséria, que não tem qualquer acesso ou não estão inseridas na tão propalada e acelerada Revolução 4.0.

O discurso “fique em casa” por quem têm condições soa altruísta, pois defende a vida, mas se torna contraditório toda vez que alguém aciona o serviço de tele entrega, pois lá estão pessoas arriscando a vida (para fazer sua refeição, para entrega-la em seu endereço) para que você, que está em casa, não arrisque a sua. Contraditório toda vez que você vai até a farmácia ou mercado, onde pessoas continuam trabalhando arriscando suas vidas para que você não arrisque a sua. Contraditório enquanto pessoas da área da saúde arriscam suas vidas para que você não arrisque a sua.

Contraditório enquanto famílias passam necessidade sem poder sair para trabalhar, enquanto você não arrisca a sua, pois tem mantimentos suficientes para permanecer na sua casa.

As pessoas precisam sobreviver, mas para isso, pressupõe onde e como sobreviver.

Precisamos de um plano que envolva toda a sociedade. Altruísmo seletista irá salvar poucas pessoas.

O discurso precisa perder a conotação política e defender a vida em toda a sua extensão.

Qual será o caráter deste novo tempo?

Que Deus nos abençoe.

Publicação original em: https://jornaldebrasilia.com.br/blogs-e-colunas/pense-direito/as-novas-formas-de-relacao-do-mercado-na-transicao-entre-enfrentamento-da-pandemia-e-pos-covid-19/